PRIMEIRO “ACORDÃO” ENTRE AS FAMÍLIAS ALVES E MAIA
COMPLETA 40 ANOS EM 2018
ALIANÇA ENTRE OS GRUPOS LIDERADOS POR TARCÍSIO MAIA
(ARENA) E ALUÍZIO ALVES (MDB) SERVIU PARA DERRUBAR A INFLUÊNCIA DA MAIOR FORÇA
DO ESTADO NA ÉPOCA, DINARTE MARIZ. UNIÃO PODE SE REPETIR ESTE ANO
Tiago Rebolo
As duas
famílias políticas mais tradicionais do Rio Grande do Norte deverão repetir nas
eleições deste ano uma aliança nada original. Juntos mais uma vez, os Alves e
os Maia – desta vez, representados pelos senadores Garibaldi Filho e José
Agripino, além do prefeito Carlos Eduardo, que pretendem ser candidatos –
planejam reeditar no pleito de outubro (ver box) uma prática que tem origem em
quatro décadas atrás.
Há exatos
40 anos, as duas famílias decidiam convergir pela primeira vez os interesses,
mudando a configuração política do estado dali em diante.
Conhecido
como “Paz Pública”, o fenômeno chama a atenção de cientistas políticos e
historiadores. É o caso do professor Sérgio Trindade, que se debruça sobre o
tema há vinte anos. O pesquisador conta que a união entre as famílias Alves e
Maia em 1978 provocou alterações significativas no quadro político.
“Com o resultado
das eleições, houve uma reformulação na política estadual, tendo em vista que
‘novas’ lideranças políticas surgiram, outras decaíram e outras, ainda,
‘ressurgiram’ após anos de ostracismo”, conta o historiador, lembrando ainda
que a “Paz Pública” coincidiu com a abertura democrática do país.
Professor Sérgio Trindade – Foto:
José Aldenir/Agora Imagens
ENTENDA A HISTÓRIA
Em 1978,
conta Trindade, com o sistema bipartidário, as principais lideranças políticas
do estado estavam na Arena (Aliança Renovadora Nacional) e no MDB (Movimento
Democrático Brasileiro). O MDB, que fazia oposição ao governo militar, era o
reduto da família Alves; enquanto que a Arena tinha o senador Dinarte Mariz,
que dominava a política potiguar até então, e a emergente família Maia.
Naquele
ano, percebendo o avanço do MDB principalmente em Natal, o governador arenista
Tarcísio Maia decidiu arquitetar uma manobra para evitar surpresas na eleição para
o Senado, já que quatro anos antes o feirante Agenor Maria havia derrotado o
candidato da Arena, Djalma Marinho, refletindo uma tendência nacional, que era
de perda de capital político dos adeptos ao regime militar.
Apenas
uma vaga para o Senado estava em disputa em 1978, já que Dinarte Mariz, mais
alinhado com o governo central, seria nomeado “senador biônico” (eleito
indiretamente) e Agenor Maria tinha mandato até 1983.
A Arena,
que vinha de uma cisão interna gerada nas eleições indiretas de 1974 (que
resultou na nomeação de Tarcísio Maia para o Governo do Estado, para a
insatisfação de Dinarte Mariz), não tinha consenso em torno de um nome. O
empresário Jessé Freire era a preferência do governador Tarcísio, mas Dinarte
não o apoiava. Foi então que o governador foi buscar o apoio da família Alves,
rival de Mariz, para vencer a disputa.
“Tarcísio
se aproximou de Aluízio e conseguiu fazer com que a família Alves apoiasse
Jessé. Isso é a Paz Pública”, registra o professor.
O
historiador lembra que Aluízio Alves (que foi governador até 1969, quando foi
cassado pelo regime militar) decidiu aderir à candidatura de Jessé Freire em
detrimento do candidato do seu próprio partido (MDB), o também empresário Radir
Pereira. Em troca, os Alves puderam indicar o vice do futuro governador
Lavoisier Maia: o empresário Geraldo Melo.
O curioso
na história é que Radir Pereira também recebeu apoio dos “adversários”. Setores
da Arena ligados a Dinarte Mariz descontentes com a candidatura de Jessé Freire
decidiram apoiar o nome do MDB. Além de Jessé, esses arenistas não engoliam a
vitória de Tarcísio Maia na indicação do sucessor para o Governo, que acabou
sendo Lavoisier Maia, em detrimento de Dix-Huit Rosado, apoiado por Mariz.
A
estratégia de Tarcísio, no final das contas, após uma campanha agressiva, foi
vitoriosa. No dia 15 de novembro de 1978, aproximadamente 710 mil eleitores
foram às urnas no Rio Grande do Norte, e Jessé Freire venceu Radir Pereira com
76 mil votos de maioria. O professor Sérgio Trindade frisa que, após isso,
Tarcísio ganhou mais protagonismo, e Dinarte Mariz (que viria a morrer em 1984,
durante mandato de senador) começou a declinar.
“Quem
emerge como força política após a eleição de Jessé Freire é Tarcísio Maia, já
que a estratégia eleitoral foi dele. E, além disso, temos a volta de Aluízio
Alves à vida pública, dez anos após sua cassação pelo regime militar. Foi a
maior aliança política feita no RN desde 1954, quando a UDN e o PSD se uniram
para eleger Dinarte Mariz e Georgino Avelino. Combinou as forças da Arena no
interior e a liderança de Aluízio na capital”, completa o professor.
União política entre Aluízio e
Tarcísio foi desfeita em 1982, na eleição de Agripino
Pesquisador
do assunto, o professor Sérgio Trindade registra que a “Paz Pública” articulada
por Tarcísio Maia (vide página ao lado) tinha, além da eleição de Jessé Freire
em 1978, outro objetivo que acabou prejudicando a aliança com os Alves nos anos
seguintes. Tarcísio queria, na verdade, diminuir a influência da família
“aliada” em Natal e se tornar a grande força política do estado, ocupando o
espaço deixado por Dinarte Mariz.
O
historiador relata que Tarcísio havia indicado Lavoisier para sua sucessão
desde que o novo governante nomeasse o engenheiro José Agripino Maia para o
cargo de prefeito de Natal. “Por que Natal? Porque, para os Maia, era
necessário obter um determinado número de votos na capital para cobrir a
diferença que existia em relação à liderança dos Alves. Daí, José Agripino
acaba sendo nomeado, faz uma gestão na Prefeitura com apoio do Governo do
Estado e se fortalece para ser candidato a governador em 1982”.
É neste
momento em que a aliança entre os Alves e Maia feita quatro anos antes se
enfraquece. “Agripino disputa contra Aluízio em 1982 e é eleito. Os Alves,
então, foram traídos ao firmarem a aliança lá atrás. Agnelo Alves (ex-prefeito
de Natal e Parnamirim) dizia que, não fosse Tancredo Neves, a família Alves
tinha se acabado politicamente. Isso porque Tancredo, quando eleito governador
de Minas Gerais, chamou Aluízio para trabalhar como secretário. Depois, quando
Tancredo se elegeu presidente, Aluízio se tornou ministro”, diz o professor,
acrescentando que, a partir disso, outros membros da família Alves conseguiram
ter êxito na política.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA, LAVOISIER MAIA, TARCÍSIO MAIA E JOSÉ AGRIPINO
FONTE – AGORA RN
Nenhum comentário:
Postar um comentário